20 de fevereiro de 2008

O Jogo dos Sete Erros

- Trabralho de Instalação -

(Imagens do Processo de Montagem)



Durante o ano de 2004 passei algumas das fases mais complicadas da minha vida, foi um ano de muita dificuldade (em quase todos os aspéctos), estava concluindo minha faculdade, depois de quase cinco anos, enfim estava terminando o curso de Artes Plásticas na Universidade Federal do Paraná. Vivendo lá, em Curitiba, estava eu realizando meus trabalhos ("trampos", como diziamos, ainda digo...), brigando com a minha monografia e com o vídeo que lhe dava base à discussão - Tombamento de Patrimônio Arquitetônico. Muitas foram as experiências que envolveram tudo isso, fui à Goiás para fazer as gravações que pretendia transformar em um registro documental, mas essa é outra história... Passei por problemas de dinheiro ("perrengue de grana", como também diziamos, ainda digo...), cortaram minha luz, uma vez também a minha água, tive um orientador equivocado (cujo nome não levantarei e não promocionarei) que precisei deixar de lado, trabalhei como um louco, senti raiva, senti dúvidas, senti medo, dei muitas aulas de línguas, ufa!! Quantos verbos e conjugações... Acho que em 2004, falei mais espanhol que qualquer outra língua, ah.., também tive que aguentar uma chefe uruguaia que me odiava. A morte de minha avó! Em meio a isso tudo, descobri que aquele antigo jogo "dos sete erros" tinha mais lógica do que até ali imaginava... Veja só, um simples jogo!!

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Durante o ano anterior (2003), dentro da última oficina de desnho desenvolvi uma linguagem que ao meu ver, tinha muitas funções e fazia dialogar certos pontos de vista, uma vez que o ideal dos meus trabalhos era colocar o espectador para interagir com a obra. Tínhamos nessa disciplina um professor/artísta, bastante competente (ao menos, precisei reconhecer isso, afinal era ele o cara dos títulos), prêmios aqui e ali, enfim, o meio acadêmico é mesmo assim, tem essas tendências. Deveras acho engraçado como tudo isso acontece, na academia se realizam acordos de "Lords", trocam-se favores fora das pautas constitucionais (internas ou que dita o próprio governo), mas lá, isso funciona muito bem, tem total nexo, é inclusive legal... Me lembro muito bem da minha primeira aula com a turma nessa oficina, que para mim era a primeira, mas na verdae era a segunda, pois na primeira semana de aula "nunca tem aula", então eu tinha ido à praia. No ano de 2003, houve aula na primeira semana de aula da UFPR! Comecei ouvindo o que cada um de meus colégas de turma tinha imaginado para o início de seus trabalhos. A propósta consistia em que levássemos o desenho à uma exploração que não fosse precisamente bidimensional, ou seja, não tínhamos a obrigação de fazer desenho com lápis e papel, mas que os trabalhos (mesmo que tridimensionais) tivessem os conceitos básicos do desenho: linha, volume, profundidade, forma etc. Podíamos à partir disso, criar conceitos, "brincar" com cores, fazer arte!



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Ao longo do ano, meu projeto apurou os conceitos básicos, não tive muito interesse em fazer coisas maravilhosas. Meu primeiro projeto (apresentado quando todos já trabalhavam na execussão, ou seja, uma semana atrasado), foi uma linha de raciocínio, e foi mesmo uma linha, uma única linha. Pensei em algo muito estranho, e tive a feliz ou infeliz idéia de querer construir uma coluna-linha, com plástico e gel... Mas como? Oras, assim mesmo, derreti plástico até obter um fio, horas mais denso, horas mais fino e que ia do teto de nosso atelier até o chão, prendi com um prego, que depois desapareceu com o gel, esparramado ao longo de toda a extensão desse fio-coluna-plástica. Que ingenuidade a minha imaginar que o mestre se convenceria de que aquilo era desenho, uma linha, mera linha. Mas sei lá, era linha, dentro de um espaço, visto de vários pontos, tinha profundidade, tinha volume, até certa cor - o gel era azul - mas a verdade é que isso não era desenho, segundo o mestre, mas ficava me perguntando se as linhas coloridas de artístas do Pop Americano eram então desenhos, ou se só eram arte mesmo!! Hum, fiquei mesmo sem respósta, até hoje... O tema "evoluiu", ao menos isso foi comentado depois de uma caixa cheia de fios de plástico e de uma bolha de plástico com muito gel azul dentro, onde fiz as pessoas pisarem e formarem seus desenhos abstratos e sem qualquer intenção. Fui reconhecidamente o cara que evoluiu!! Mas me lembro da minha última apresentação, falei, mudei os croquis, precisava superar tudo aquilo que evoluiu. De verdade, gostava mais da idéia da coluna, odiei a caixa com fios e ri por dentro quando um coléga meu de turma comentou que a bolha era demasiado conceitual, com essas palavras mesmo. É muito difícil não ter seu trabalho entendido, é muito difícil ter que explicar aquilo que para si é tão óbvio, é muito chato ter que dizer que "não, não é uma casinha com um jardim o que há no canto do painel", mas é muito interessante quando nos acostumamos com a crítica, especialmente a negativa, esperando então que sejamos sempre o centro do jogo dos sete erros, onde quase nunca estão os erros e droga, nem faço parte desse contexto, pois o divertido é encontrar os erros, e eu nem sou um deles! No último trabalho que apresentei, queria ser mais audacioso, porém mais simples com relação ao tema e fiz meu professor pensar que encontraria uma instalação com formas humanas feitas em gesso penduradas em uma sala do prédio e com lâminas de plástico muito liso, recortadas em tamanhos e formas diferentes. Construí uma imagem como dessas de frigorífico, onde se tem os corpos pendurados e tudo muito bem isolado por questões de igiêne. Quando o leão entrou na sala, teve um susto, uma surpresa e ele mesmo comentou: "Nossa, achei que ia encontrar um monte de moldes tirados de gente pendurados pela sala e um monte de lâminas de plástico recortado e em alturas distintas... Parabéns, esse seu trabalho é mesmo muito bom, você desconstruiu seu tema, mas de uma maneira engraçada porque começou da linha e chegou no desenho completo, uma cena, e nem sequer uma folha de papel, só nos exemplos, os croquis... Hum... 9,5 está bom pra você?". Sorri, achei interessante o ponto de vista! Entendi os títulos, entendi muita coisa e me senti o próprio sétimo erro, enfim, alguém tinha marcado um grande X onde eu estava dentro da cena, achei ótimo!


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No ano seguinte, precisei trocar de orientador na monografia - ele dizia que discutir arte com gente simples era coisa de gente pouco informada. Que projetos de animação com crianças de rua era bobagem, se duvidar elas até roubariam a câmera, que ir até Goiás e perguntar ao povo da Cidade que visitei, o que era patrimônio e o que era aquele patrimônio para elas seria um grande eqívoco... "Oras, você vai perguntar ao Zé da esquina o que ele acha de arte, ou se ele ajuda o padre a recolocar o sino da igreja matriz no lugar cada vez que chove forte?", tive que escutar isso!! Outro dia, visitei a página do instituto de artes da Universidade Federal do Paraná, hoje em dia, meu ex-quase-orientador de monografia, doutor pela Universidade de Paris e tal, é o atual chefe do departamento. Lembram dos acordos de "Lords"?? Naquele ano tive que jogar o jogo dos sete erros e joguei... Não encontrei todos eles, fiquei meio sem explicação. A pesar de ter reconhecido com verdade a maestria do professor de desenho e depois ter testemunhado a ignorância-mestra do professor-doutor pela Sorbonne, ainda me resta uma pergunta, por tanto, só achei seis erros... A lata de coca-cola, é feita de linhas e é Pop... Isso é desenho ou é só arte pop?


- No Instituto de Artes da Universidade Federal do Paraná -
... ano de 2003, novembro - Disciplina Oficina de
Desenho...

2 comentários:

Anônimo disse...

Oh Deus!!
Quantas pontes, é incrível como você liga pontos hein cara-pálida??!!?

Outra vez, só tenho que dizer...
Muito bom!

Anônimo disse...

...geraldo...lima...STEVEN...geanine...brahma...walter...leão...carneiro...fblannes...vlald...mattar...elma chips...garcia...nunes...
14, pelo menos!!!
É...o jogo!!!