É de fato muito importante saber quando começar e quando brecar um processo! Disso sempre soube, dentro da linha do tempo que compreende a idéia que claramente expõe essa afirmação! Refletir sobre como comportar e proceder, comportar como quem se permite e como quem dá possibilidades, comportamento de acomodação, comportamento de atos pensados e lógicamente enquadrados dentro de um certo padrão... Coisas do gênero!
Digo tudo isso porque de fato e com efeito, há tempos venho perdendo um pouco dessa noção a princípio tão segura sobre o que se raciocina e portanto, o que penso, o que sinto, exige certa conduta, preciso ser sério, preciso mesmo!
É bem mais complicado falar de si consigo do que para o outro, então por favor me desculpem se faço dessas linhas, um certo desabafo, um certo depoimento de vida, testemunho de coisa qualquer, sei lá. Ontem estava por uns minutos pensando sobre um conto que me foi relatado certa vez; já não tenho noção exata de quanto tempo faz, mas certamente alguns anos... Um garoto caucasiano foi vítima de um acidente junto com seus pais e outro parente, tio, primo ou coisa do tipo, não me lembro ao certo. Mas o caso ou conto, relatava que isso aconteceu em uma selva. O garoto foi resgatado por um grupo de indígenas, daqueles remanescentes, que já tem sua cultura modificada pelo contato com o homem conhecido como civilizado (hoje porém, é mais bonito dizer "caucasiano" do que branco) e por aí vai toda a lenga-lenga por assim dizer!
Voltando ao caso do garoto, fato foi (segundo a história que ouvi dizer) que ele teria ficado com os índios durante algumas semanas e entregue aos responsáveis por sua busca quando localizado. Nada houve de problemas nesse caso, os índios sabiam bem o que estava acontecendo, fazendo com que o menino fosse embora junto com o grupo de resgate que o procurava até então...
Ouvindo os relatos do garoto soube-se que os dias vividos na tribo fora de suma importância para sua recuperação física e mental e que eles não apenas buscaram curar seus ferimentos, como também lhe fizeram saber de muitas histórias entre eles sobre a vida e a morte. De muitas coisas que aconteceram ao garoto junto à tribo, uma é realmente bem curiosa... Com outros jóvens do grupo, ele foi colocado para executar a fabricaçâo de uma jangada e assim que ficou pronta, alguns chefes da tribo partiram para uma pesca e voltaram com farta quantidade de peixes. Ao terminarem de comer, a tribo inteira começou uma nova movimentação para o acontecimento de uma cerimônia e a seu modo (sem a necessidade de avaliar se isso é certo ou errado), fizeram com que o garoto ficasse fora da aldeia, ao lado do rio e portanto, passasse uma noite inteira apenas ouvindo de longe os sons de sua celebração. Pela cabeça do menino passou muita coisa, pensou em partir naquela jangada, mas amendrontou-se com a imensidão do rio; chorou, sentiu falta dos pais, chorou... A madrugada e os sons da floresta invadiram sua mente, sua sensação térmica e seus sonhos, tanto, tanto, que não mais dormiu e passou muito tempo ali observando a jangada que ajudara a construir e reconheceu a diferença daquele lugar, daquela situação, daquele povo.
Nada há de extraordinário em tal acontecimento, não preciso escrever aqui como no dia seguinte ele retomou "suas atividades" com a tribo e passado certo tempo, o resgate - "Graças, ele está vivo" - deve ter se alegrado certamente uma avó ou pessoa de sua real tribo. O que me faz pensar aqui é bem mais que a trágica história, ou parte dela, na vida desse garoto. Fico com isso, com esse exemplo, indagando e procurando respostas para a minha falta de sono, o número de vezes em que construí jangadas e de forma efetiva participei do processo de pesca e posterior a isso, jantado o pescado... De fato quais foram as cerimônias que precisavam acontecer com a minha participação ou não? Na beira do meu rio, sozinho e contemplando a imensidão tenebrosa de onde se reúnem as almas, os corpos buscam aquilo que os sustenta? E nem falo de matéria, pouco falo de matéria nesse caso! Falo de respeito à cerimônia, sem pensar ou dizer: "Isso tudo está errado!!".
Os espaços são todos tão diferentes e a noção de maior ou menor também, respeito ou desrespeito, fazer parte ou não da "tribo" está essencialmente dentro de cada um de nós; nossos mundos são diferentes e mesmo cortando madeira de árvores na floresta, mesmo com pés descalços, mesmo assim... O garoto sempre esteve fora do grupo, sempre foi diferente, sempre!!
E precisamos mesmo de alguém que nos diga hoje ou amanhã: "Leve isso para lá ou para cá"? É de fato e de suma importância dividir em células a matéria que obviamente já é distinta e variável?
E mais, fazer parte ou estar à parte é tão evidente, tão claro... Já não consigo falar mais!
Agora, poucas conclusões... Por fim, eu no lugar do garoto, teria empurrado a jangada para dentro do rio e para observar se ela afundaria ou não... Água mais turva, corrente mais forte. Não dormiria e temeria os seres peçonhentos da beira do rio e terminada a noite, sem sono, sem sonho, provavelmante ajudasse a construir uma nova jangada, para pesca que alimentaria o povo antes da próxima cerimônia.
- Mim ser caucasiano da selva, mim subir
em árvore de concreto e vidro em eleva-dor...
... mim saber contar dollar e histórias -
Nenhum comentário:
Postar um comentário