10 de junho de 2010

Sentenças

Ao amigo verdadeiro, uma carta de realidade!
Fico pensando, nós, os seres nascidos do inverno... A vida friamente clara, friamente lúcida, tão friamente dura! Aos corações bons - as intenções que se aproveitam, aos generosos espíritos - as atitudes maculadas em forma de "não"...
Não, você não pode!
Não, você não entende!
Não, você não é, você não tem, você não vai, você não quer!
Não! Não! Não!
Aos olhos sonhadores, porque afinal as pessoas mentem? E diga então, porque aos pensamentos talentosos, as criações são tantas vezes a tentativa do breque? "Ei, espera um pouquinho. Não seja ainda, não vôe alto, fique aqui e se prenda, ou se esqueça, se renegue e se entregue ao desejo alheio de que você em nada existe" - hipócritas os homens, egoístas, esses outros seres das estações mais quentes que ignoram como a vida (já tão madrasta), nos obriga, os seres do frio a sentirmos a falta dos calores, os graus lá do alto.
Sentenciado o homem, ele acredita e enxerga a sua condenação; os anos passam e como passam! Vão ficando mais curtos, tamanha velocidade com que existem e vão ficando mais previsíveis, tamanha a repetição das sentenças!
São eles, os corações bons - os que disso entendem. Sempre tropeçam em seus exageros admiráveis, sempre choram atrás das portas - suas lágrimas que temem incomodar, sempre dão as novas chances e com elas se condenam, se frustram, mas sempre dizem o "sim"... Contrário do "não" que o mundo todo oferece aos seres gelados!
São os seres do gelo, os mais transparentes, os mais interessantes, os mais pompudos e lindos, raros! São os seres da neve que aprendem a viver uma fase longa sem alimeto e sobreviver de seu próprio e pessoal consumo, são os seres dos ventos gelados os que arriscam a caça noturna, dias claros demais para ver o que há de importante! São os que se agrupam, se reúnem para aquecer os corpos (digo aí também as almas) e são eles, pequenos do trimestre à baixa temperatura do ano que nasceram ao sabor das fogueiras, das bebidas calentadas... Tudo, tudo o que traduz a proximidade, os "seja bem vindo" ,"entre e feche a porta, fique aqui dentro"; trazem consigo a gana e a boa vontade do "trazer consigo" e nunca adeptos do "vou levar pra mim",
Sentenciado o homem, me diga hoje, você que como eu e como todos já foi garoto, amigo meu... É justa a vida? Daqui, a gente vai para algum outro melhor lugar?
Sentenciado o homem, me esclareça um ponto, você que como eu já foi traido, comparsa meu... É verdade mesmo que a gente cresce? Daqui um tempo, o quanto disso que vivemos hoje (e lamentamos...) com um sorriso poderemos nos lembrar?
Cumprindo as sentenças, como eu acredito, já estamos por cumprir... Responda se possível, meu oh respeitado bispo, seus movimentos alcançam até onde? Pois se a vida, podemos comparar com uma mera partida de xadrez, porque afinal cada peça ao seu movimento e porque afinal me é decidido quais são os meus e os seus...?
Presos!!
Existo ou insisto no viver?
Eu acredito, senhor destino, que seu companheiro leonino amaria a oportunidade de conhecer o que há depois, para então responder se o "aqui" vale a pena. Impossível tarefa, não poderei definir... Triste destino, única e real sentença! Quando falo das Luas, ao entender que somos nós, existências do inverno... Hei-la aí, nova sentença, não podemos simplesmente alcançar o satélite natural da Terra!
Condenados?
Não!
Escolhidos?
Pode ser...
O quê afinal acontece conosco?
Seres do frio, que aprendem a conhecer, a acolher, a perdoar e ser maiores!


Quantas vezes assim?
Cadeiras enfileiradas, vão longe os assentos
cheios de pessoas que observam, julgam ou simplesmente,
passivelmente nos vêm...

Um comentário:

Diego Maranhão disse...

Algumas das perguntas mais dificeis de se responder. Fiquei até com um nó nop meio da garganta!!

Abraço forte Leo.