26 de junho de 2009

Fábulas - Conto Primeiro

Aurora, cheia de luz-menina, enchera aquele quintal de contos e pouco a pouco ela foi inspirando os dias das crianças. Aurora fora a cobiçada beleza de juventuda para várias daquelas garotas nos tempos de colégio e seu sorriso, matinal aparição, fazia todas as folhas, recém caídas no terreno vermelho e marrom, se encherem de mais orvalho!
Aurora era tão leve que a contaminação que provocava, em forma quase que de raios, pouco se percebia e então, os homens todos se enchiam de alegria quando chegava a autora do dia. Aurora fazia pouco da solidão. Sempre feliz, ela compreendia que os pecados cometidos atrás dos troncos podiam ser perdoados e que não seria necessário atingir os corpos ali escondidos, para mostrar que estavam condenados pela força de seu alcance voraz.
Aurora já fora a professora de muitos, fizera de tempos em tempos seus aprendizes, que tontos de clareza, podiam sentir a força de sua existência. Aurora saudava os pequeninos, sentia paixão pelos desprotegidos e lhes dava norte, direcionava, fazia ver à claridade de sua honesta bondade.
Aurora era amiga dos pássaros e dos cães fiéis dos homens abusados, tão abusados! Aurora protegia a existência das névoas matutinas sobre os lagos dos campos em amanheceres lindíssimos!
Aurora era serena, tranquila e fina. Aurora encantava-se pelos infantes, acariciava as crinas dos cavalos que pastavam, percorria os montes, os canaviais, as matas e trazia consigo as cores: os verdes de paz, os cinzas quando havia chuva, os azuis de tantos céus e dourados, prateados, amarelos...
Aurora teve apenas uma rusga, apenas uma trinca em relações...
Aurora se apaixonou por um ser tão forte quanto ela. Aurora se perdeu e fez com que se perdessem os toques de seus dedos, entre os dedos do poderoso Crepúsculo e assim sofreu...
Diferente de Aurora, Crepúsculo agia em turnos arriscados, era encantador, porém vilão!
Crepúsculo sofria do mal entendimento, sofria das sombras, sofria dos frios escuros e da doença do amor sem futuro. Crepúsculo era o ser que trazia em sua grande capa negra, a solidão das estrelas separadas e o engano aos olhos humanos que acreditavam na proximidade delas. Crepúsculo tentara muitas vezes fazer de si alguém melhor...
Inspirava poetas, propunha climas, desperdiçava charme aos amantes-homens, mas se esquecera dos outros seres, se esquecera da fidelidade que deveria ter também junto aos voadores e aos quadrúpedes. Crepúsculo era generoso, mas enganado por sua própria vontade bondosa. Ele protegia Soturno, seu amigo mais próximo, que guardava os recantos, os sono dos lagos e rios. Crepúsculo acreditava muito em Soturno, não lhe via mal, apostava em sua leal guarda e sabia que sua imagem, apenas imagem, de má nada tinha!
Crepúsculo chorou quando certo dia avistou a bela Aurora...
Num susto, mero piscar de olhos, deixou de avisar Soturno que já era hora de partir e tendo-o esquecido, olhou para trás e viu Aurora. Emocionado, mas sem palavras, partiu e pensativo ficou. Não esqueceu por muito tempo o rosto de Aurora. Se esqueceu de Soturno!!
O amigo Soturno, era inteligente, tinha todos os poderes para modificar sua existência, embora nunca o fizera antes, mas vendo seu comparsa perdido em pensamentos sobre Aurora, encheu-se de inveja e foi ter com ela em pleno dia. Soturno travestiu-se em Vermelho e assustou Aurora em uma curva existente num canto remoto do bosque.
"Quem é você?"
"Meu nome é Vermelho, a cor mais vibrante de todas existentes na Natureza!"
"E o que faz você aqui senhor Vermelho?"
Vermelho riu e depois respondeu...
"Não me chame de senhor Aurora! Vim avisar-lhe de certas coisas..."
"E que coisas são essas?"
"Quero que saiba antes que você tem um grande inimigo. Chama-se Soturno. Essa criatura vive sempre depois que você parte para outros rumos no mundo e parte sempre que o senhor Sol volta anunciando sua chegada. Ele a odeia e quer ver seu fim, porque sempre é obrigado a partir quando está por chegar seu protetor - o Sol e você mesma".
"Nunca fiz nada a esse senhor! Que venha ele mesmo ter comigo".
"Impossível cara Aurora, ele nunca poderá estar de fronte para você, assim que me encarreguei pessoalmente de avisá-la sobre o perigo que corre. Ele apenas pode existir à sobra da noite e com a chegada de Crepúsculo".
"Sendo assim, risco algum corro eu!"
"Assim você se engana Aurora. Soturno é muito experto e tem por grande amigo o próprio Crepúsculo, que outro dia, teve a coragem de desafiar as ordens dos antigos. Olhou para trás, enxergando assim o seu rosto. Agora ele a conhece e sendo ele, existência comparável a sua, tem o desejo de acabar consigo".
Aurora assustou-se e sentiu que corria grande perigo... Sabia que nunca poderia ver os olhos de Crepúsculo pois o Sol já lhe avisara antes. Ele era filho da Lua que ao Sol rejeitara, sempre se escondendo dele atrás da Terra. Aurora então agradeceu o aviso que lhe dera Vermelho.
Soturno partiu, desaparecendo entre os arbustos do bosque, correu por entre as pedras e os trocos mortos espalhados nos campos. Ria soluçante enquanto se despia do disfarce.
Ao encontrar Crepúsculo, Soturno contou-lhe sobre Aurora e mais uma vez mentiroso, disse que a ouvira dizer que nunca olharia para Crepúsculo, pois temia que ele a fizesse tremendo mal. Crepúsculo não pôde crer. Sofreu, pois a amava em verdade e planejou convencê-la do contrário...
Certo dia, ao findar da tarde, Aurora lançou sopro sobre as folhas e assobiou entre os galhos das árvores. Cumpriu com o ritual que sempre lhe coube como tarefa e seguiu rumo a porta do dia para mais uma jornada em outra parte do mundo, quando de repente foi surpreendida por Crepúsculo que a esperava do outro lado. Assustou-se, mas não pode evitar mirar em seus olhos e pediu, implorou para que partisse. Ele, nada entendendo, pediu que o escutasse por apenas um instânte, mas era tarde! Ouviram a voz estrondosa do gigante Sol que condenou Aurora por desobediência. Essa, tentou explicar-lhe, mas antes mesmo de poder contar o que acontecia ali, ouviu sua sentença. O Sol tirou seus poderes sobre o dia e como forma de castigo impediu-lhe de ser para todo sempre a dona da claridade, obrigou-a a ver todos os inícios das manhãs e assim, ela sempre morreria em instântes a cada entrada triunfal do Sol por cada recanto da Terra. Nunca mais poderia encontrar com Crepúsculo, pois ele surgiria após a saída do Sol e não mais de Aurora.
Crepúsculo tocou a mão de Aurora, pedindo perdão por tê-la provocado grande mal e que ele não imaginava nada dessas coisas, não sabia que era odiado pelo Sol, mas sim, acreditava que ela não o poderia amar e chorou. Aurora apaixonou e apaixonou-se, mas se foi...
A Lua foi ter com Crepúsculo, mostrou que sua atitude deixara o ciclo natural de todas as coisas comprometido, que deixou de cumprir seu papel e que fez sofrer todo o sistema. Não o condenou, mas mostrou que satisfeita não estava e que por isso nada faria em favor de Aurora, explicou que sua rejeição ao poderoso Sol lhe custara a face, que marcada quatro vezes, passou a ser cheia, nova, crescente ou minguante... "Nunca mais tive face Crepúsculo!!".
Crepúsculo passou a varrer as folhas com seu sopro, em cada lugar que chegava todas as tardes, repetindo o ritual de sua amada. Crendo ainda no falso amigo, deu a Soturno o previlégio do assobio entre os galhos das árvores. Soturno sofreu algum tempo depois, ao perceber que que não mais seria esperado por seu companheiro, pois a morte de Aurora fora o fim das rondas de Crepúsculo, que passara apenas a varrer as folhas, apagar as lamparinas do dia e anunciar a chegada da Lua. Soturno deu-se o nome de Solitário e entendeu seu egoísmo, se condenou à escuridão entre os galhos e deixou os assobios, pois passou a chorar também. Entendeu que a breve chegada de Aurora expulsava a noite da senhora Lua e com ela, Crepúsculo. Entendeu que Crepúsculo sofria sempre ao chegar, por não poder mais ver, nem de longe, a beleza d'Aurora.
*
"Aurora me contou certo dia na varanda
que os branquinhos de neblina são frios e sós.
Eu perguntei para ela se o Sol sempre
expulsava os branquinhos... Ela riu e disse que não!
Explicou-me que era tudo questão de ordem
mesmo... Que quando ela chega, logo morre e fica
o Sol.
Pouco entendi e passei tempos pensando!
Mas no fim do dia, quando chegou na porteira
o rapaz Crepúsculo, já foi entrando cheio de versos
e assim contou um segredo.
Disse que se eu olhasse para as árvores, ali,
veria Soturno. Eu perguntei quem era Soturno.
Ele riu e disse assim...
- Caro Leonardo, agora pare e escute!
Você entende de Fins?"

6 comentários:

Carol disse...

Belissimo caro Leonárdio!
tantas considerações e desconsiderações... como diria o gde Nelson.. A vida como ela é!!

beijos

YÔ disse...

Ideias abstrata, percepção concreta!
(o inverso tambem)
:)

beijos

zuzi disse...

Caro Leonardo, agora pare e escute!
Você entende de Comecos?

Reginice Menezes disse...

Nossa Léo, qta coisa!!
Um texto lindo. Fico até sem palavras pra comentar... Qtos encontros e desencontros a vida nos proporciona, qtos Soturnos vestidos de vermelho nos envolvem com suas conversas, com sua arte de enganar, de mentir... É meu amigo, muitas vzs naum temos a maturidade pra perceber o momento em que estamos vivendo, que muitas coisas só acontecem se muitas outras vierem antes...

Em meio a tudo isso, Aurora, Crepúsculo, cair da noite, escuridão, Soturno, está nossa vida, nossas opiniões, desejos, objetivos..

Parabéns Léo,
Sua fã de carteirinha!!

Besitos!!

Rê.

Rosane Improta disse...

GOSTEI DO TEXTO É LIRICO METAFORICO E ROMANTICO

Rosane Improta disse...

Melissa Kiss é Rosane Improta