20 de novembro de 2014

A INTRODUÇÃO

Na minha adolescência, houve um piano, teclas que ensaiei... Entre notas que dançavam sobre as folhas de partituras e partituras, os meus sonhos eram tão gigantes e eu acreditava que os tornaria realidade de forma quase fabulosa, quase! 
Naqueles anos os cadernos viviam cheios de desenhos, os amigos cheios de alegria e o meu coração perseguia idiomas, livros e mais livros, minha mãe e minha avó, meus poemas e uma bailarina que com suas sapatilhas me persegiu também; eu fui feliz em cada momento e com cada uma dessas coisas e pessoas, mas o piano era um desafio, era um sonho maior que saltava aos olhos e gritava aos ouvidos!! No mundo das escolhas, ele se foi de mim e numa avalanche de acontecimentos, a sua perda dos meus dedos que ainda tocavam introduções e polcas nos corrimãos ou nas estantes, quase não foi lamentada, mas aos poucos o piano foi virando "gente", um luto que eu guardei pra mim, uma desistência, uma frustração porque nos meus sonhos eu tocaria cada trilha, de cada história e comporia meus poemas antes como notas, antes eram apenas notas, mas elas se foram também. Então, o menino sonhador sem perceber foi se enchendo de rancores dos amores que não pôde embalar e perdeu-se em tantas idas e vindas, meu Deus, quantos são os mundos aos quais teria que provar para depois julgar e enfim, decidir, estar, viver, ficar...?? 
Na minha adolescência eu desejei ser um escritor que, aos poucos, hoje eu vejo revelar-se e sonhei ser um viajante, cidadão do mundo que antes de tudo me tornei; e o pintor que nunca mais voltará – eu sei, o amor da linda bailarina que vi sumir depois voltar, que ensinou-me que o amor pelo sagrado é o seu melhor estado, ela me ensinou a perdoar! Na minha adolescência eu jamais imaginaria estar onde agora estou, com toda a história que se foi e ainda, sem ponto final, acontecerá. Naqueles anos flutuantes eu desenhava uma pedra e uma árvore que juntas geravam um Ser Humano sem saber que mais tarde, as pedras, quem carregaria seria eu e sem saber que as raízes que me tiraram o piano não impediriam que meus galhos crescessem e tocassem os pontos mais distastes, os mais longínquos e não apenas corrimãos e estantes daqueles dias das primeiras tristezas!!!
Pois bem, eu estou aqui... Agora, depois de muitas coisas, ainda na construção dos sonhos e vivendo um tempo de realizações. Pois bem, eu encotrei um amor que me trouxe a leveza daqueles anos de volta e com essa leveza a maior surpresa de todas, aquela que eu nunca imaginaria ter de volta: o piano. Eu fiquei tão feliz quando o vi com um bilhetinho que dizia: "A sua audição absoluta merece ouvir os sons que tanto ama e eu ficarei aqui esperando que você venha tocar pro meu coração". Eu o dedilhei, eu brinquei e não me atrevi de fato, pois ah eu preciso de aulas, muitas delas, treino!!! 
Mas hoje vi-me sozinho com o grande presente, quando olhei para o meu sonho feito de madeira de ébano, me sentei com algumas partituras e li a introdução das Bachianas número 5, os meus dedos sobre as coxas se movendo, e eu fui ouvir na internet, passei e repassei, passei de novo e de novo, abri a grande caixa preta e me lembrei da bailarina, dos amigos, das raízes e das pedras, da minha mãe, da minha avó e da leveza e das perdas... Foi a introdução às Bachianas, apenas, mas eu consegui de novo, eu consegui a introdução tantos anos depois sem as partituras e me emocionei, por isso as lágrimas de hoje são de pura felicidade!!!!

- Quando nascer a flor,
quando for tudo imenso
amor,
quando um sonho 
sublimar a sua dor,
então
serás feliz e serás teu
salvador! -

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